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MST reforça ataque ao agronegócio

OESP, Nacional, p. A6
09 de Abr de 2007

MST reforça ataque ao agronegócio
Em parceria com Via Campesina, movimento planeja um mês inteiro de ações contra empresas transnacionais

Roldão Arruda

O Movimento dos Sem-Terra (MST) decidiu intensificar o ataque às grandes empresas do agronegócio. Especialmente as de capital internacional - também chamadas de transnacionais. Um sinal claro disso foi dado no início do mês de março, quando, em associação com a Via Campesina, o movimento realizou protestos contra essas empresas em vários Estados. Estuda-se agora a possibilidade de dedicar um mês inteiro a novas mobilizações contra elas.

Em março, no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, ativistas ligadas ao MST e à Via Campesina ocuparam terras de reflorestamento de três empresas do setor de celulose - Aracruz, Votorantim e Stora Enso; no Paraná, fizeram protestos diante da Nortox, fabricante de herbicidas; em São Paulo, invadiram áreas da Usina Cevasa, produtora de álcool, que teve parte de seu capital vendido há pouco para a Cargill, gigante mundial do agronegócio, e, no Ceará, interditaram a chamada rodovia do agronegócio, usada por exportadoras de frutas.

Essa inflexão do MST deve ser acentuada daqui para a frente, em decorrência dos problemas que, segundo seus líderes, são causados pelas transnacionais. Entre outras coisas, estariam impondo um modelo de monocultura ao País, com ênfase em produtos para exportação; promovendo novo processo de concentração de terras, com riscos para a agricultura familiar; causando desemprego e agredindo o meio ambiente, devido ao desmatamento e ao uso intensivo de agrotóxicos. Também são acusadas de controlar a produção de insumos ao redor do mundo e impor preços aos produtos agrícolas.

A mudança do MST é impulsionada por dois fatores: seus vínculos cada vez mais estreitos com a Via Campesina e a necessidade de mostrar suas contradições com o governo Lula, que, no segundo mandato, estaria se mostrando mais conservador e mais próximo do agronegócio do que no primeiro.

A organização internacional Via Campesina está na base de um esforço que vem sendo articulado ao redor do mundo contra as transnacionais, tentando reunir movimentos de sem-terra, pequenos agricultores e ambientalistas. Segundo Soraia Soriano, que faz parte da coordenação nacional do MST e representa a Via no Brasil, trata-se de uma tentativa de globalizar a oposição a empresas globalizadas: "É natural que isso ocorra, uma vez que as mesmas empresas estão presentes em diferentes partes do mundo."

O que unifica os diferentes movimentos, ainda de acordo com suas explicações, é a defesa dos recursos naturais e do conceito de soberania alimentar. "No Brasil, a soja, a cana-de-açúcar e os eucaliptos do reflorestamento estão ocupando cada vez mais espaço, empurrando a pecuária para as regiões de floresta. No Rio Grande do Sul, está sendo implantado um projeto que prevê um aumento de 100 mil hectares na área de plantio de eucalipto, para a produção de celulose. Não é só a luta pela terra. Trata-se de ameaça à soberania alimentar."

ALVOS

Em fevereiro, a Via reuniu cerca de 600 representantes de movimentos rurais de diferentes partes do mundo, entre eles o MST, na pequena cidade africana de Sélingué, no Máli. Eles discutiram soberania alimentar durante cinco dias e concluíram que devem reforçar a luta contra "o imperialismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo e o patriarcado, e todo sistema que empobrece a vida, os recursos, os ecossistemas e os agentes que os promovem, como as instituições financeiras internacionais, a Organizações Mundial do Comércio, os acordos de livre-comércio, as corporações transnacionais e os governos que prejudicam a seus povos".

Entre as corporações mais citadas no encontro estavam a Monsanto e a Syngenta, que estão na ponta das pesquisas, produção e comercialização de sementes transgênicas. No Brasil, elas têm sido sistematicamente criticadas pelo MST.

Em relação a Lula, o MST vive uma contradição: tem mais liberdade para atuar do que em governos anteriores, conta com mais recursos e até influência no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas está convencido de que o presidente se rendeu ao agronegócio. Para seus líderes, ouvi-lo dizer que os usineiros "estão virando heróis nacionais e mundiais porque todo mundo está de olho no álcool" foi traição. Devem responder com mais ataques ao agronegócio.

Empresas atacadas negam danificar ambiente

Em seus sites na internet, as empresas atacadas pelos sem-terra apresentam outra visão de suas atividades. A Aracruz Celulose, líder mundial na produção de celulose branqueada, controlada pelos grupos Safra, Lorentzen e Votorantim, informa que em todas as suas atividades procura preservar o equilíbrio do ecossistema. Cita o fato de que os 279 mil hectares de eucalipto que possui são intercalados com outros 154 mil de reservas nativas.

A empresa informa que também estimula o plantio de eucaliptos por terceiros, através do Programa Produtor Florestal, que abrange 88 mil hectares, com mais de 3 mil produtores.

A Nortox, no norte do Paraná, tem capital 100% brasileiro. Segundo seu site, "a preocupação com o meio ambiente sempre fez parte da filosofia de trabalho". Além de tratar seus efluentes de fabricação, diz manter reserva florestal com mais de 700 mil m² de espécies nativas.

No site da Cargill chama a atenção o uso de uma expressão muito cara ao MST: "segurança alimentar". Por meio de sua fundação, a empresa mantém desde 2003 o programa De Grão em Grão, que abrange 57 mil alunos de ensino fundamental. "É um programa voltado ao resgate da cidadania através do incentivo à segurança alimentar e à agricultura familiar", diz o site. Além de orientação e material pedagógico, a empresa está criando hortas nas escolas. Os produtos são usados na merenda escolar.

OESP, 09/04/2007, Nacional, p. A6

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