Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Juliana Scardua
06 de Abr de 2005
Consórcio formado por 11 empresas manifesta interesse em investir na pavimentação da rodovia federal
Um grupo de 11 empresas que atuam no ramo de produção e comercialização de soja, incluindo a Amaggi e a Hermasa, do governador Blairo Maggi, deve participar da licitação para pavimentação da BR-163 (Cuiabá/Santarém), segundo o Ministério dos Transportes. A previsão de investimentos privados no projeto, ligando os municípios de Nova Mutum, no Médio-Norte de Mato Grosso, a Rurópolis, no Pará, é de R$ 1,026 bilhão. Compõem o consórcio outras empresas de grande porte no segmento, como a Cargill e a Fiagril.
Cortando grande extensão do interior do Pará e chegando próximo ao porto de Santarém, o trecho corresponde a 1,340 mil quilômetros. Os custos de escoamento são a chave do interesse na rodovia. Hoje, cerca de 40% do preço dos produtos agrícolas de Mato Grosso é composto pelo transporte. Estudos do Ministério dos Transportes indicam que os custos do frete rodoviário para o escoamento da produção pela BR-163 podem ser até 30% inferiores se comparados aos demandados pelas tradicionais vias até os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), por onde essa produção, especialmente da soja, é remetida ao mercado externo.
O tempo é outro fator decisivo, com uma economia de até um dia e meio ou 36 horas até a chegada da mercadoria aos navios. O presidente da Companhia das Docas do Pará, Ademir Andrade, destaca também a maior proximidade de Santarém com os grandes portos internacionais, como o de Roterdã, na Holanda, e Tóquio, no Japão. A diminuição na distância poderá gerar economias no frete com os navios, orçado em US$ 18 mil ao dia.
Diante do cenário de possibilidades favoráveis ao produtor, principalmente da soja, a Companhia das Docas do Pará projeta um incremento nas exportações da oleaginosa no próximo ano via o porto de Santarém, saltando das atuais 900,697 mil toneladas para seis milhões de toneladas.
O volume corresponde a um terço da produção de soja de Mato Grosso estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para esta safra, de aproximadamente 18 milhões de toneladas. Ao final da pavimentação, a companhia estatal estima uma movimentação de 15 milhões de toneladas de grãos no porto, cerca de 50% de toda a produção da região Centro-Oeste.
Segundo o assessor especial do Ministério dos Transportes, José Roque Marques, a etapa de concessão deverá ser concluída em outubro, com a divulgação do vencedor da licitação pública para a pavimentação. Caso o consórcio vença a licitação, terá direito a explorar a rodovia por 25 anos. Para tanto, estudos do governo apontam que um montante de R$ 1,131 bilhão deverá ser aplicado nesse período pelos empresários para a manutenção da estrada.
Construção será feita em três anos
O prazo total de construção da pavimentação da BR-163 previsto na proposta inicial do governo federal é de três anos, contados a partir da data de divulgação dos vencedores da licitação.
Os custos arcados pelos investidores com o asfaltamento deverão ser cobertos por meio de cobrança de pedágio na estrada.
A previsão é de que pelo menos 10 postos de recolhimento sejam instalados ao longo dos 1,340 mil quilômetros da rodovia federal a serem licitados.
A média aplicada pelo segmento rodoviário no Brasil é de um posto de cobrança a cada 110 km. A tarifa deverá ser de R$ 6,45 em cada posto até Rurópolis (R$ 0,047 por quilômetro rodado) e de R$ 7,60 (R$ 0,053/km) caso a carga seja entregue diretamente no porto de Santarém.
Os detalhes do projeto de concessão da rodovia federal foram apresentados ontem, durante o Seminário BR-163 -A Caminho do Desenvolvimento, promovido pela empresa Expresso Araçatuba, em São Paulo.
Os ministros de governo que compõem o Grupo de Trabalho BR-163 Sustentável deverão se reunir esta semana para discutir o modelo de concessão que será adotado.
Conforme afirma o assessor especial do Ministério dos Transportes, José Roque Marques, o governo federal não descarta a realização de uma parceria público-privada (PPP) para fomentar as obras que a rodovia precisa para se efetivar como importante via de escoamento no modal de transportes da região.
De acordo com as informações do Ministério dos Transportes, resta apenas a conclusão do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) entre Guarantã do Norte e a fronteira com o Pará, num trecho que compreende 54 km, para que o relatório completo sobre o projeto de pavimentação seja encaminhado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Após a análise e a emissão da licença de instalação, o projeto será enviado ao Tribunal de Contas da União e ao Conselho Nacional de Desestatização. Somente após esse trâmite o edital de licitação será aberto.
Ponte ficará a cargo da União e governo do PA
No plano estratégico de retomada da BR-163 como forte via de escoamento da produção caberá ao governo federal e ao Estado do Pará a pavimentação, restauração e a construção de pontes de concreto entre Rurópolis e o porto de Santarém, ambas no Pará, distantes 213 quilômetros.
A dotação orçamentária inicial já garantida para o trecho é de R$ 105 milhões, priorizando-se na primeira etapa dos trabalhos a substituição das pontes de madeira pelas de concreto. A previsão é de que as obras comecem em junho.
A demanda em investimentos manifestada pelo empresariado do segmento do agronegócio fez com que o governo federal retomasse o planejamento estratégico da via de escoamento rodoviária, idealizada na década de 1970 como um mecanismo de colonização da região Norte do país. Para discutir a viabilidade da pavimentação e os impactos na região amazônica, foi criado em março de 2004 o Grupo Interministerial de Trabalho BR-163 Sustentável, coordenado pela Casa Civil.
O atual panorama da BR-163, construída na década de 1970, apresenta 61,3% do total de 1,760 mil de quilômetros em terra. Embora expedição promovida pela Expresso Araçatuba e Scania em setembro do ano ado aponte boas condições de trafegabilidade em alguns trechos da estrada, a maioria do percurso até Santarém é marcado por buracos, acirrados declives e pontes de madeira deterioradas.
Esse quadro fornece riscos a quem se aventura a cortar a floresta, situação agravada no período de chuvas pelos grandes atoleiros e o isolamento de regiões inteiras com a cheia dos rios que am pelo Estado do Pará. Outros 2,2% estão em fase de execução de obras. Os 36,5% restantes da rodovia já estão pavimentados. Contudo, em vários trechos há asfaltamento com uma série de precariedades, como buracos, falta de sinalização e falta de acostamento. Esse é o caso do trecho que liga os municípios mato-grossenses de Nova Mutum a Guarantã do Norte, incluso no plano de exploração rodoviário elaborado pelo Ministério dos Transportes por demandar reparos ao escoamento agrícola da região, grande produtora de grãos no Estado.
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